sábado, 20 de outubro de 2012

Deus, o livre arbítrio e o castigo


Reflexão de 2011 que merece uma boa lida!

Deus, o livre arbítrio e o castigo

Deus castiga? Esta pergunta acabou por ser motivo de uma boa discussão que participei há algum tempo. Em meio a reflexões sobre ‘qualidades’ ou ‘virtudes’ de um católico/cristão) onde acabamos nos conhecendo um pouco mais através de nossas opiniões e ideias. Mas porque essa questão veio à tona em meio as virtudes e qualidades de um cristão? Confesso que não me lembro ao certo mas que há um tempo venho pensando sobre isso (dentre tantas que um dia terei coragem de expor).



Quem é Deus? O criador do Universo, Aquele que nos criou, onipotente, perfeito, santo, onisciente, onipresente... amor! E partindo desse ponto (de que Deus é tudo em todos, Cf. I Coríntios 15, 28) quero buscar uma reflexão para esta pergunta: Deus castiga?
Deus é tudo e nos deu o livre arbítrio, e o que isso significa? Conheço os que dizem que livre arbítrio é fazer o que se queira fazer. Há os que entendem que não somos livres, pois se Deus sabe de tudo, “sabe o nosso futuro e portanto não fazemos o que queremos e não temos escolhas” (determinismo). A ciência que diz que tudo é o acaso e que somos influenciados pelo meio e não temos escolhas: eu chamo de Providência Divina. Sabemos que não é bem por aí... São Paulo lembra que a mim tudo me é permitido, mas nem tudo me convém” (I Coríntios 6, 12).

Recorro a Santo Agostinho, a quem venho aprendendo que “não se deve impor a verdade sem caridade, mas nunca sacrificar a verdade em nome da caridade” e que tem belas contribuições à nossa Igreja sobre diversos assuntos e dentre elas uma obra com mais de 150 páginas intitulada O Livre Arbítrio e que buscando algumas referências acabei encontrando belas reflexões sobre a nossa capacidade – dada por Deus – de escolher.
No Livro 1 (O pecado provém do livre-arbítrio), questionado se Deus é o autor do mal, Agostinho primeiro se preocupa com a definição da palavra “mal”, a do mal que se pratica e a do mal que sofremos. Explica-nos que Deus não pode praticar o mal (pois é bom) e, justo que é, distribui recompensas aos bons e castigos aos maus.

“Pois bem, se sabes ou acreditas que Deus é bom — e não nos é permitido pensar de outro modo —, Deus não pode praticar o mal. Por outro lado, se proclamamos ser ele justo — e negá-lo seria blasfêmia —, Deus deve distribuir recompensas aos bons, assim como castigos aos maus. E por certo, tais castigos parecem males àqueles que os padecem. É porque, visto ninguém ser punido injustamente — como devemos acreditar, já que, de acordo com a nossa fé, é a divina Providência que dirige o universo —, Deus de modo algum será o autor daquele primeiro gênero de males a que nos referimos, só do segundo.” (O Livre-Arbítrio, Santo Agostinho)

Então estamos resolvidos, Deus castiga mesmo. É isso? Penso que não.

Ao que parece, Agostinho quer nos ensinar que aos nossos olhos, quando somos castigados, estamos sob uma ótica de vítima, de injustiçado e que não merece colher o fruto de sua ação, mas que na verdade Deus apenas está agindo com justiça para com nossos atos. Ora, se acreditamos que Deus é perfeito podemos imaginar o quão ele é capaz de nos julgar e certamente estaríamos errados em discordar e buscar as justificativas ao invés de justificação. Pensem nas crianças que estão sempre certas e nunca merecem ser castigadas, num profissional experiente que não aceita correções dos mais novos, de nós cristãos quando sequer somos capazes de reconhecer que erramos com o irmão e não aceitamos ser admoestados e optamos pelo mal. Lembremo-nos de quanta soberba e cegueira.
Devemos sempre nos colocar diante do Deus misericordioso, porém sem esquecer a sua justiça e perfeição em nos julgar.

Lucas Cavalcante - Julho/2011

2 comentários:

  1. Então.... visto do prisma agostiniano, é sim lógico. O que dizer, contudo, de um ateu ético? receberá a punição divina, por não crer em Deus? Se sim, não há livre arbitrio. Se não, é certo que a verdade não precisa estar atrelada a Deus.

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    1. Meu irmão, pensemos no ateu-ético: perfeitamente possível de ser encontrado em nosso dia-a-dia, ele faz o bem sem conhecer - ou ignorando - a Deus.

      Lembro que recentemente o nosso Papa Francisco nos brindou com a frase em 22/05/2013 em sua homilia: “Se nós, cada um de nós, fizer o bem aos outros, pouco a pouco, lentamente, realizamos aquela cultura do encontro: aquela cultura de que tanto precisamos. Encontrar-se fazendo o bem.”

      Nos encontraremos fazendo o bem.

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