Reflexão de 2011 que merece uma boa lida!
Deus, o livre arbítrio e o castigo
Deus castiga? Esta pergunta
acabou por ser motivo de uma boa discussão que participei há algum tempo. Em
meio a reflexões sobre ‘qualidades’ ou ‘virtudes’ de um católico/cristão) onde acabamos
nos conhecendo um pouco mais através de nossas opiniões e ideias. Mas porque
essa questão veio à tona em meio as virtudes e qualidades de um cristão?
Confesso que não me lembro ao certo mas que há um tempo venho pensando sobre
isso (dentre tantas que um dia terei coragem de expor).
Quem é Deus? O criador do
Universo, Aquele que nos criou, onipotente, perfeito, santo, onisciente,
onipresente... amor! E partindo desse ponto (de que Deus é tudo em todos, Cf. I
Coríntios 15, 28) quero buscar uma reflexão para esta pergunta: Deus castiga?
Deus é tudo e nos deu o
livre arbítrio, e o que isso significa? Conheço os que dizem que livre arbítrio
é fazer o que se queira fazer. Há os que entendem que não somos livres, pois se
Deus sabe de tudo, “sabe o nosso futuro e portanto não fazemos o que queremos e
não temos escolhas” (determinismo). A ciência que diz que tudo é o acaso e que
somos influenciados pelo meio e não temos escolhas: eu chamo de Providência
Divina. Sabemos que não é bem por aí... São Paulo lembra que “a
mim tudo me é permitido, mas nem tudo me convém” (I Coríntios 6,
12).
Recorro a Santo Agostinho, a
quem venho aprendendo que “não se deve impor a verdade sem caridade, mas nunca
sacrificar a verdade em nome da caridade” e que tem belas contribuições à nossa
Igreja sobre diversos assuntos e dentre elas uma obra com mais de 150 páginas
intitulada O Livre Arbítrio e que
buscando algumas referências acabei encontrando belas reflexões sobre a nossa
capacidade – dada por Deus – de escolher.
No Livro 1 (O pecado provém do livre-arbítrio),
questionado se Deus é o autor do mal, Agostinho primeiro se preocupa com a
definição da palavra “mal”, a do mal que se pratica e a do mal que sofremos.
Explica-nos que Deus não pode praticar o mal (pois é bom) e, justo que é,
distribui recompensas aos bons e castigos aos maus.
“Pois bem, se sabes ou acreditas que Deus é bom — e não
nos é permitido pensar de outro modo —, Deus não pode praticar o mal. Por outro
lado, se proclamamos ser ele justo — e negá-lo seria blasfêmia —, Deus deve
distribuir recompensas aos bons, assim como castigos aos maus. E por certo,
tais castigos parecem males àqueles que os padecem. É porque, visto ninguém ser
punido injustamente — como devemos acreditar, já que, de acordo com a nossa fé,
é a divina Providência que dirige o universo —, Deus de modo algum será o autor
daquele primeiro gênero de males a que nos referimos, só do segundo.” (O
Livre-Arbítrio, Santo Agostinho)
Então estamos resolvidos,
Deus castiga mesmo. É isso? Penso que não.
Ao que parece, Agostinho
quer nos ensinar que aos nossos olhos, quando somos castigados, estamos sob uma
ótica de vítima, de injustiçado e que não merece colher o fruto de sua ação,
mas que na verdade Deus apenas está agindo com justiça para com nossos atos. Ora,
se acreditamos que Deus é perfeito podemos imaginar o quão ele é capaz de nos
julgar e certamente estaríamos errados em discordar e buscar as justificativas
ao invés de justificação. Pensem nas crianças que estão sempre certas e nunca
merecem ser castigadas, num profissional experiente que não aceita correções
dos mais novos, de nós cristãos quando sequer somos capazes de reconhecer que
erramos com o irmão e não aceitamos ser admoestados e optamos pelo mal.
Lembremo-nos de quanta soberba e cegueira.
Devemos sempre nos colocar
diante do Deus misericordioso, porém sem esquecer a sua justiça e perfeição em
nos julgar.
Lucas Cavalcante - Julho/2011
Então.... visto do prisma agostiniano, é sim lógico. O que dizer, contudo, de um ateu ético? receberá a punição divina, por não crer em Deus? Se sim, não há livre arbitrio. Se não, é certo que a verdade não precisa estar atrelada a Deus.
ResponderExcluirMeu irmão, pensemos no ateu-ético: perfeitamente possível de ser encontrado em nosso dia-a-dia, ele faz o bem sem conhecer - ou ignorando - a Deus.
ExcluirLembro que recentemente o nosso Papa Francisco nos brindou com a frase em 22/05/2013 em sua homilia: “Se nós, cada um de nós, fizer o bem aos outros, pouco a pouco, lentamente, realizamos aquela cultura do encontro: aquela cultura de que tanto precisamos. Encontrar-se fazendo o bem.”
Nos encontraremos fazendo o bem.